Tornou-se um fenômeno na internet a profusão de programas culinários, com conteúdos audiovisuais que buscam orientar direta ou indiretamente nossas práticas alimentares cotidianas. Desse modo, emerge como um problema para a Nutrição a rápida profusão de diferentes modos de construção e circulação de verdades sobre os alimentos e nossos hábitos de consumo alimentar. Evidentemente, a compreensão de que nosso comer é atravessado pela cultura e por um conjunto de normas sobre o que é “bom” ou “ruim” não é uma novidade. Contudo, como essas produções midiáticas, criadas e produzidas com um conjunto de dispositivos de comunicação cada vez mais penetrantes em nossos modo de vida, aparecem como agentes ordenadores de alimentação saudável?
Comunicação e ressignificação das tendências de alimentação
Essa pergunta norteia a tese “Estratégias discursivas e produção de sentidos para o consumo de alimentação saudável em um canal de culinária do YouTube”, de Manuela de Sá Pereira Colaço Dias, pesquisadora do Laboratório Digital de Educação Alimentar e Humanidades (LADIGE) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGN/UFRJ). Em andamento, o estudo foi apresentado no dia 16 de Dezembro à banca de qualificação e aprovado. O objetivo da pesquisa é compreender, no contexto da Sociedade do Saudável, as estratégias discursivas e de produção de sentidos que orientam o consumo de alimentação saudável em um de canal culinária na plataforma YouTube.
Para tanto, Manuela Dias realiza um mapeamento dos recursos e ferramentas disponíveis na plataforma YouTube que auxiliam a produção e disseminação dos vídeos, assim como se propõe a analisar o jogo simbólico na edição do canal e de uma personagem de orientação de práticas culinárias. Entende-se que a ressignificação das tendências de alimentação nas produções midiáticas é indissociável das práticas culinárias ali presentes.
Cultura e consumos do saudável
De acordo com a pesquisadora, as maneiras de fazer os alimentos, de transformá-los em comida, é um dos caminhos para se refletir sobre o consumo de alimentação saudável. Afinal, a culinária é uma expressão de um conjunto de regras e classificações que compõem um código cultural, tais como seleção de ingredientes, frequência e uso dos alimentos, técnicas de preparo, uso de utensílios, modos de cozinhar e formas de apresentação e de servir.
Análises preliminares das videoaulas de culinária já demonstraram que neste universo, gestos, modos, discursos, expressões, cores, decoração, cenário, receitas, ingredientes e formas de preparo são partes constitutivas deste sistema simbólico de orientações culinárias. São roteiros preestabelecidos que estruturam e são estruturados por um fio condutor que manobram os conteúdos para um determinado fim, ou seja, o consumo do saudável.
Sendo assim, tendências de alimentação e culinária circulantes nas mídias compõem conjuntamente formas de consumo do saudável, apontam “verdades” alimentares e se apresentam como estilos de vida, isto é, são elementos constitutivos de identidades, de subjetividades, de modos de viver dos sujeitos.
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