Os modelos atuais de produção e publicação científicas e seus efeitos sobre a formação e a prática acadêmicas foram assunto, no último dia 08 de outubro, na aula aberta da disciplina Metodologia Científica do doutorado do PPGN, sob coordenação da professora Rosângela Alves Pereira. Pesquisadoras convidadas para compor a mesa-redonda “Publish or Perish”, mediada pela coordenadora do LADIGE Maria Cláudia Carvalho (INJC-UFRJ) no auditório do INJC (UFRJ), as professoras Shirley Donizete Prado (Instituto de Nutrição – UERJ) e Dina Czeresnia (Escola Nacional de Saúde Pública – FIOCRUZ) apresentaram um diagnóstico crítico a respeito do produtivismo no campo científico.  Produtivismo científico e pluralidade epistêmica Entendendo a prática científica como uma atividade não apenas técnica, de aplicação de métodos, mas permeada por subjetividades e interesses, Prado argumentou como o estímulo à concorrência entre pesquisadores – consequência do “próprio desenvolvimento do capitalismo” e de sua penetração e diversas instâncias da vida – afeta a produção de conhecimento. A partir de informações de estudo recém-publicado no livro “A pesquisa no campo da Alimentação e Nutrição no Brasil” (EDUERJ-GRAMMA) – de sua autoria, ao lado de Myriam Ramagem Martins e Maria Claudia Carvalho – a professora atentou sobretudo à necessidade de revisão de modelos avaliativos vigentes na pós-graduação atual. Para a pesquisadora, seu caráter concorrencial e disciplinar não contempla e mesmo obscurece a pluralidade epistêmica que é marcante no campo da Alimentação e Nutrição , onde predominam referenciais de cunho biomédico, e da ciência como um todo.  “Nós passamos a ter a ideia de produtividade como uma categoria importada da estrutura econômica e aplicada ao trabalho intelectual. Nós vamos passar a pensar como quem faz a gestão de uma fábrica, a lógica de produtividade das máquinas. É um padrão de trabalho que se impõe sobre um conjunto de culturas de produção de conhecimento, procedimentos e metodologias muito diferentes que vão sendo padronizadas para entrar naquele mesmo modelo fabril.”, explica, ressaltando a consolidação desse modelo produtivista como modo de sobrevivência no cenário acadêmico. “A gente incorpora isso, tendo essa disposição para produzir mais, buscar mais, porque o meu currículo vai ficar robusto; assim, imaginamos que, na concorrência com alguém, seremos os melhores”, aponta.  Criatividade e Inovação na ciência Na mesma linha, a professora Dina Czeresnia falou em seguida e questionou, especialmente, quais as perspectivas de criatividade e inovação científicas quando as demandas de produção se sobrepõem ao tempo disponível para observação e reflexão aprofundada sobre a realidade e os conceitos usados nas pesquisas. Sua crítica foi direcionada especialmente ao modelo prevalente de educação voltado à repetição. “Não somos avaliados pela qualidade das nossas perguntas. Somos avaliados pela quantidade de nossos artigos. […] Um aluno, às vezes, entra em um grupo de pesquisa porque ele vai ser útil para reproduzir um modelo de pesquisa, vai ser útil para quem está chefiando aquele grupo, mas não se está formando um pesquisador que vai ter a capacidade de elaborar suas próprias perguntas e ir adiante com elas. Esse é um problema da educação como um todo. E não só do Brasil, mas do mundo”, assegura a pesquisadora, pontuando a importância de se buscar alternativas à limitação das possibilidades de realização do humano pelo capitalismo. “É uma produtividade para quê? E para quem? Não é só uma questão de relação de trabalho no sentido econômico, mas no sentido também de existência, de como a gente se torna capturado pela necessidade de produzir, produzir e produzir. É preciso haver a sobrevivência de uma perspectiva diferente.”, alertou.