Com grande repercussão nas redes sociais os memes foram amplamente compartilhados no período de quarentena da COVID-19. Associados ao funcionamento de um vírus, os memes são imagens midiáticas muito disseminadas, espécie de ‘unidades mínimas de memória’ denominadas KEK em memética, bricoladas com conteúdo complementar em estilo provocador e engraçado.

Diante do turbilhão de novas sensações de memes experimentadas durante o distanciamento, o compartilhamento de conteúdo em torno de comida e bebida foi alvo de pesquisa sobre memes  abordando modificações corporais e mudanças nos hábitos alimentares. Na hora de decidir sobre o que comer, a escolha associa tensões e estresse com alimentos com alto teor de açúcar e gordura. A preferência por pizzas, sanduíches e chocolates opera como espécie de ‘zona de conforto’.

A chamada de memes sobre mudanças corporais na quarentena nas redes sociais e coleta ocorreu entre abril e junho de 2020. Foram coletados 114 memes no formato de imagens. As pesquisadoras realizaram busca ativa das imagens, bem como realizaram uma chamada por redes sociais solicitando o envio de memes relacionados ao tema da pesquisa. O objetivo foi realizar uma análise qualitativa de memes compartilhados em redes sociais sobre modificações corporais e mudanças nos hábitos alimentares durante o período de pandemia.

A mudança de rotina gerada pelo aumento do tempo livre provocado pelo esvaziamento de atividades fora de casa, somado ao estresse gerado pela pandemia e suas consequências imediatas e de longo prazo, levou a preocupações generalizadas entre o público em geral sobre a vulnerabilidade a excessos, comportamento sedentário e ganho de peso. Essas preocupações são refletidas na explosão de postagens cômicas sobre a quarentena, os chamados memes, compartilhadas em mídias sociais. Os memes analisados reforçam estereótipos comuns de que as pessoas com obesidade são preguiçosas, desleixadas e carentes autocontrole. Também implicam que ter um peso corporal mais alto é um problema a ser evitado a todo custo (PEARL, 2020).

Nos últimos anos, a obesidade vem sendo amplamente discutida na sociedade e principalmente nas redes sociais. Afinal, ser obeso é sinal de doença? Ser gordo é sinônimo de feiura? Esse tipo de pensamento tomou força na década de 90 e início dos anos 2000, quando ser magra tornou-se um objetivo das mulheres, graças a expansão da comunicação e do corpo “ideal” padrão. Na década de 90, a obesidade passou a ser vista como um mal a ser combatido pela medicina e o corpo magro começou a ser reconhecido como sinônimo de beleza e saúde, hipótese que perdura até os dias atuais. A ditadura da magreza trouxe consigo um preconceito contra as pessoas gordas.

Intitulado hoje de gordofobia, o preconceito contra obesos nasce justamente de atitudes onde o acusador inicia uma série de argumentações e chacotas na tentativa de ridicularizar e causar mal-estar naqueles que estão acima do peso.

Hoje, durante o distanciamento social, podemos entender que a gordofobia já passou a ser um fenômeno cultural, visto que uma das principais preocupações de muitas pessoas é engordar durante essa fase.Por meio de dietas, cirurgias, procedimentos estéticos, muitas vezes, o ser humano tenta se incluir na sociedade e encontrar sua identidade, mas, ao mesmo tempo, pode entrar numa ditadura do corpo ideal.

Referencias:

  • PEAR, REBECA (2020). Weight Stigma and the “Quarantine-15”. Obesity (Silver Spring). http://doi: 10.1002/oby.22850.
  • Humor 2.0 Styles and Types of Humour and Virality of Memes on Facebook. Journal of Creative Communications, 10(3) 288–302. http://doi: 10.1177/0973258615614420.
  • CHAGAS, VIKTOR; MODESTO, MICHELLE; MAGALHÃES, DANDARA (2019). O Brasil vai virar Venezuela: medo, memes e enquadramentos emocionais no Whatsapp pró-Bolsonaro.  Esferas, 14, 1–17.http://dx.doi.org/10.31501/esf.v0i14.10374.
  • Barbara Leone Silva, Jacobina Rivas Cantisani, Interfaces entre a gordofobia e a formação acadêmica em nutrição: um debate necessário.